REALISTA
Um dos últimos cliques que fiz com minha Nikon F3 (uma câmera analógica fabricada em 1980) antes de vendê-la. Não sei se vocês sabem, mas até hoje a grande maioria dos filmes de longa-metragem são filmados em película. Ou seja, são filmados com filme (daí o nome), da mesma forma que nossas famílias fotografavam viagens e aniversários até o fim da década de 90. O filme precisa de um processo químico posterior (revelação) para visualização das imagens e, por conta disso, é uma técnica cara nos dias de hoje, que aos poucos está sendo abandonado em Hollywood e em outros mercados cinematográficos no mundo. Porém, alguns diretores resistem e fazem questão de gravarem seus filmes com película. É o caso de Tarantino, Woody Allen, J. J. Abrams e Christopher Nolan. Os motivos? Dentre muitos, o realismo da imagem. O processo digital codifica a luz em bits, fazendo uma espécie de simulação do que seria a cor e a textura real. Funciona muito bem, porém, por mais cara que seja a câmera, essa codificação nunca é 100% fiel ao real. Ainda é impossível de se obter cor, luz, textura e nitidez em câmeras digitais reais como num filme fotográfico. Logicamente o digital tem suas vantagens, como baixo custo de produção, qualidade da imagem (notem que qualidade é diferente de fidelidade), pouca granulação em situações de baixa luz, dentre outras virtudes. Mas o filme fotográfico ainda é infinitamente melhor quando precisamos de fidelidade de imagem. Uma fotografia feita com filme é palpável, tridimensional, realista. As cores e texturas praticamente saltam do quadro, são táteis. A fotografia de hoje serve para ilustrar isso. Não é uma fotografia com uma luz sensacional, ou uma situação de alto interesse fotográfico. É uma foto simples. Trouxe essa imagem apenas para ilustrar o texto, já que é uma fotografia altamente realista, feita com o famoso filme Kodak Proimage 100. Os engenheiros ainda vão ter que se debruçar muito sobre suas pranchetas para desenvolverem um sensor fotográfico digital que seja capaz de capturar a fidelidade do nosso belíssimo mundo. Ou então, desenvolverem um filme barato e com altíssima qualidade de imagem, com baixo nível de ruído e muita nitidez, como nos sensores digitais atuais. São os dois lados da moeda. Por ora, usemos ambos, cada qual nos oferecendo o melhor deles.
- Charles Tôrres