PAPAGAIO
Uma das coisas mais
interessantes em Belo Horizonte é sua miscigenação racial, étnica e
social. Mesmo que muitos não apreciem tal fato, especialmente os
mais abastados, na grande metrópole mineira temos contato com todo tipo de
gente, o tempo todo, seja numa feira, num bar, no centro da cidade, num
shopping ou num grande evento. Os bairros mais pobres de toda a Grande BH se
fundem com os mais ricos de uma forma orgânica e impessoal. Se misturam
sem pedir licença. Logicamente, nem sempre foi assim. BH nasceu para ser
uma cidade de estirpes higiênicas, como ocorre hoje em outras cidades
planejadas. Porém, a ginga pluralista do bom mineiro não
deixou que a cidade fosse segregacionista. As camadas sociais estão
interpostas de tal maneira que é comum não sabermos onde nos enquadrar
nessa história toda. Enquadrar pra quê? Não sou socialista, mas não
concordo com segregação social. Me inspira ver o Morro do Papagaio, uma
favela (foto) entre o São Pedro, Vila Paris, Sion, Santa Lúcia e o São
Bento (entre os mais nobres da cidade). Sou completamente contra
qualquer tipo de preconceito, seja por qual for o motivo. Se temos
problemas sociais, uma das melhores maneiras de exterminá-lo é o
conhecendo e convivendo com ele. Além disso, até que ponto podemos dizer
que uma favela é um problema social? Isso depende do ponto de vista, do
contexto, da localidade. Um dos mais emblemáticos aglomerados da
metrópole mineira, o Morro do Papagaio é uma favela, situada no miolo da
Zona Sul, ironicamente comprimida entre diversos bairros nobres da
cidade, como dito anteriormente. E, por conta disso, os moradores
usufruem de toda a comodidade oferecida pelos bairros abastados. De um
lado passa a diplomática Av. Nossa Senhora do Carmo, e do outro,
acomoda-se o estreito lago do bairro Santa Lúcia. Apesar da pequena área
mostrada na foto, o aglomerado é enorme e conta com cerca de vinte mil
moradores. Posso estar enganado, mas acredito que a alcunha "favela" não
cabe mais ao local, já que o mesmo possui ruas urbanizadas, asfaltadas,
com iluminação elétrica, rede de esgoto água encanada nas residências.
Além do mais, a população do morro é pacifica, com praticamente 100% dos
moradores trabalhando ou estudando em localidades próximas. Sua
localização privilegiada (situando-se a três quilômetros do Centro de
BH) faz com que seja cobiçada por estudantes vindos de outros lugares do
país, atraídos pelo baixo preço cobrado em aluguéis de pequenos
quartos, ante os valores praticados no restante da Zona Sul de Belo
Horizonte.
- Charles Tôrres
Belíssima foto!
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