domingo, 18 de janeiro de 2015

CIDADE OBSCURA


Toda cidade esconde seus segredos, suas mazelas, delírios e confissões. As metrópoles possuem seus esgotos, abarrotados de restos históricos, alimentados de recessos. Esgotos imundos, cheios de bifurcações, que ora levam nossos excessos aos rios limpos e mares, ora levam à outros esgotos ainda mais sujos. Cruzamentos semelhantes aos das ruas ou avenidas, que contam com interseções que costumam me colocar em profunda reflexão. Ali, naquele ponto, você tem várias opções de caminho a seguir. Caminhos bons, caminhos ruins. Costumo pensar nas divergências que a vida nos impõe. No descrédito que temos com as nas bifurcações da vida. Costumamos já ter em mente qual percorrer... ou estar predestinados a seguir determinado percurso. Mas já parou pra pensar que, ali, você está num ponto o qual costuma ter três, quatro ou mais destinos distintos? Nunca se perguntou onde daria cada uma daquelas vias que ali se intersectam? A vida costuma nos pregar peças parecidas. Te coloca em situações em que você pode escolher pegar o caminho mais fácil e confortável, o qual você já está acostumado e sabe onde vai dar. Conhece cada centímetro daquilo ali. Parece bom... mas é fastio! O cidadão urbano moderno é criado para percorrer caminhos já exaustivamente seguidos pelos outros, como se aquilo ali fosse o sinônimo do sucesso. Raramente paramos num cruzamento para analisar onde cada um daqueles caminhos podem nos dar e quais surpresas nos esperam no final de cada percurso. Essas encruzilhadas ferem, instigam, deprimem e/ou excitam as almas mais inquietas. Na Região Central de Belo Horizonte todas as interceptações entre avenidas recebem o nome de praças. Praça da Savassi, Praça Sete, Praça Tiradentes, Praça do ABC, Praça da Bandeira, dentre muitas outras. Essas praças nada mais são que avenidas que se fundem, mesmo por um breve momento, para depois cada uma seguir novamente para onde foram predestinadas. Numa praça um cidadão faz uma pausa, senta-se, relaxa, reflete sobre sua vida para depois continuar seguindo. Poética a forma que a capital mineira distingue seus cruzamentos entre vias.

- Charles Tôrres

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