quarta-feira, 31 de outubro de 2012

PERSONAGEM DA SEMANA: O AUXILIAR DOS CACOS


O lubrificador José Márcio Pinheiro da Rocha não esconde seu carinho pela obra que mais marcou sua vida: a Casa de Cacos. Idealizada pelo falecido geólogo Carlos Luís de Almeida, a casa é um dos mais icônicos pontos turísticos da Grande BH. Localizada na rua Ignez Glanzmann de Almeida, em Contagem, a casa, que é referência no mundo todo na arte de mosaico, foi construída entre 1963 e 1989, ano de falecimento do seu criador. Toda a casa, da fachada ao interior - móveis, adornos, eletrodomésticos, estátuas e afins - foram criadas em concreto e revestidas com fragmentos de louça e de vidro. Até o papel higiênico do banheiro e as roupas e sapatos do guarda-roupas foram recriadas com a modalidade, formando em todo o conjunto um mosaico de desenhos coloridos interessantíssimos. A obra ficou internacionalmente conhecida, recebendo doações de cacos de diversos países, além de ilustres visitantes, como Silvio Santos, Chacrinha, dentre outros. Com a morte do autor, a prefeitura de Contagem comprou a propriedade, mas não teve a capacidade de preservá-la, fechando-a para visitação desde 2005. Varias tentativas de restauração da casa, que atualmente se encontra em estado crítico de preservação, já foram levantadas por políticos e secretários de cultura da Região Metropolitana de BH, mas nada foi feito até então. Até o renomado artista plástico e professor da UFMG José Alberto Nemer visitou a obra a fim de avaliar os impactos que o descaso tem feito sobre ela e o que teria que ser feito para restaurá-la. Problemas a parte, a Casa de Cacos é um espetáculo, mesmo podendo-se observar apena sua fachada. Natural de Teófilo Otoni, José Marcio Pinheiro da Rocha, homem que ilustra a foto de hoje, foi o principal ajudante do geólogo na época da construção da obra. Ele conta que, aos nove anos de idade, se mudou com os pais para a residência em frente à Casa de Cacos em uma época a qual não havia nem asfalto na rua. Dez anos depois, aos 19 anos de idade, Rocha começou a ajudar o geólogo visionário à decorar a casa - e não parou mais. "Carlos Luís de Almeida foi mais que um pai para mim. Ele me ensinou a fazer mosaico, me instruiu uma profissão", conta, saudoso. Segundo José Márcio, todos os moradores da rua ajudavam o geólogo a revestir a casa e construir os móveis, levando fragmentos de vidro e louça da própria casa, quando deixavam um utensílio quebrar. "Até a Dona Lucy Geisel mandou trazer cacos vindos de Brasília para ajudar o Dr. Carlos em sua casa", conta José Márcio, sobre a ex-primeira-dama, mulher do ex-presidente Ernesto Geisel. Com a casa se consolidando, Rocha via o sonho do geólogo virar seu próprio sonho. A ideologia envolvida no revestimento da residência com fragmentos de peças de louça e vidro quebradas fez com que a vida de Carlos Luís de Almeida, então aposentado, ficasse focada em sua obra. Após sua morte, a tristeza pairou nos moradores da região, especialmente em José Márcio. Hoje, aos 49 anos, o teófilo-otonense diz se sentir muito consternado ao ver o total abandono da casa. "A Prefeita Marília Campos esteve aí há um tempo atrás, disse que ia tentar reformar a casa, mas nada aconteceu", conta o homem, inconformado com a situação. Dado o valor original e inusitado da Casa de Cacos, a renúncia e o desamparo total por parte das autoridades representam uma grande perda para os turistas e para todos os moradores da Grande BH. Por conta da total negligência apresentada, foi descartada a possibilidade da obra se integrar ao Circuito Cultural Internacional da Região Metropolitana de Belo Horizonte, para a Copa de 2014, ao lado da Igrejinha de Nossa Senhora do Ó, em Sabará; o Museu Contemporâneo de Inhotim, em Brumadinho e as já conhecidas atrações turísticas da metrópole mineira. 

- por Charles Tôrres

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