segunda-feira, 30 de julho de 2012

NOSTALGIA


O estômago dói como uma úlcera predestinada a me matar. Deu fome, vou buscar um café na esquina. São 3h21' da manhã e eu não aguento mais a película de espiões que se passa no corujão. Meus olhos ardem, pedem por sossego, mas meu corpo amaldiçoado pela insônia insiste em me atormentar. Será que o Seu Caldeira já passou a água no pó? Desço pela escadaria do Financial afim de me esquecer do ocorrido. Sou um velho desprezado pelo tempo e pela minha própria história. Olho a avenida e sinto-me pela madrugada que bordeja a cidade, como uma folha seca navega junto ao vento. Cada destino que ladeia aquela via representa uma passagem em minha humilde biografia. Sozinho, como convém um cidadão que se atreve sair do abrigo naquele horário, acendo o último crivo do maço que me resta a fim de transformá-lo em companhia. Chego ao estabelecimento e noto que Caldeira não se encontra, e sim seu rebento, Tadeu. Insisto em acreditar que Caldeira, meu companheiro de longas jornadas, ainda está ali servindo seu aromático cafezinho. O desespero bate à porta, era o que me restava na vida. Hoje, solitário como Prometeu que perdia o fígado para um pássaro na Antiga Grécia, preferia estar ao lado do velho comerciante cafeeiro...

Charles Tôrres

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